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Como se

proteger de 

perfis fakes

Por mais que o ambiente virtual seja cômodo para a socialização, é importante se atentar também aos perigos que estão intrincados nesse espaço. O risco pode vir até mesmo de contas que parecem inofensivas.

Ilustração: Ryan Yves

É certo afirmar que o brasileiro está cada dia mais conectado ao ciberespaço. A crescente expansão do acesso à internet no país, com 70% da população inserida no mundo digital, segundo  segundo dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), demonstra a importância da rede como meio de comunicação. Entretanto, com essa mudança no cenário nacional também é possível observar o crescimento de um outro fenômeno, o aumento no número de ocorrência de crimes cibernéticos. 

 

A quantidade de tentativas de golpes virtuais no Brasil é alarmante. De acordo com dados divulgados pela empresa de cibersegurança Symantec em fevereiro de 2019, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking de ataques cibernéticos, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, respectivamente. Com aumento de 56% de ciberataques em relação ao ano de 2018. É preciso estar atento e não acreditar em tudo que se consome na web. O especialista na área de Segurança da Informação e membro do Núcleo de Tecnologia da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Pedro Côrrea explica que os cibercriminosos se aproveitam da sociabilidade das pessoas para capturar dados confidenciais das mesmas e utilizá-los ilegalmente. Ele aborda um exemplo de golpe online frequente envolvendo falsificação de perfis virtuais de lojas.

O especialista cita a Black Friday, data popularizada no mercado norte-americano que foi adotada em vários comércios do globo, inclusive pelo varejo brasileiro, que acontece sempre nos últimos meses do ano e marca o início das compras natalinas. "A Black Friday é um momento onde  as pessoas acreditam que vão ter grandes descontos. E por isso os cibercriminosos fazem promessas para grupos encaminhando e-mails como 'olha, aquele bem que você está querendo, por exemplo, um celular que você está querendo, está com o preço mais baixo aqui", mas na verdade é uma site falso, uma loja falsa. Esse é um dos caminhos para as pessoas serem fraudadas", alerta Pedro.

Maria Betânia, também especialista na área de Segurança da Informação e membro do Núcleo de Tecnologia da Informação da UFPE, atenta para outro tipo de golpe envolvendo spams, e-mails que chegam na caixa de mensagem  dos usuários sem que sejam solicitados e que tem como finalidade induzir o consumo de algo. “Acontece muito das pessoas receberem esses e-mails pedindo para fornecer dados pessoais. Muitas pessoas inocentemente mandam RG, CPF, enfim, coisas que nenhuma instituição séria vai lhe pedir por e-mail”.

 

 

manipulação e VIOLÊNCIA em aplicativos de namoro

 

Nem todos no ambiente virtual estão em busca de amor ou amizades. O caráter informal, a natureza instantânea das mídias sociais e o manto de anonimato que algumas podem oferecer também atraem pessoas que almejam outros objetivos, por vezes danosos. O problema surge quando por trás da conta existe alguém mal intencionado. Adicionar um perfil suspeito no Facebook, Instagram ou qualquer outra rede social é abrir margem para a possibilidade de fraudes, roubo de informações, ameaças, entre outros males. Parece alarmista, mas motivações perversas por trás de contas falsas podem resultar em uma variedade de crimes cibernéticos, que vão desde furto à agressão no mundo real. 

Pedro Corrêa aborda um tipo específico de manipulação em que pessoas são ludibriadas por perfis falsos em aplicativos de namoro e, durante um encontro presencial, os indivíduos por trás das contas se mostram agressores sexuais. Antes de cometer o delito o  criminoso cria uma relação de intimidade com a vítima por meio de conversas nos aplicativos, esse diálogo pode se estender durante meses. Esse tipo de crime, que envolve violência emocional, física e sexual acontece principalmente contra mulheres. 

A organização de mídia Gênero e Número, a primeira plataforma online a abordar questões de gênero a partir de dados, junto à agência de dados independente Fiquem Sabendo reuniu informações acerca do registro de crimes relacionados a aplicativos de relacionamento. De acordo com as informações coletadas e analisadas, as denúncias relacionadas a esse tipo de delito cresceram 250% em cinco anos. Como consta no levantamento, no ano de 2018, em média a cada três dias uma pessoa registrou ocorrência policial relacionada a aplicativos de relacionamento no estado de São Paulo. Nesses casos, dois terços das “vítimas” ou “declarantes” são mulheres e em 60% das vezes, a violência aconteceu em suas próprias residências. Como é possível observar no gráfico abaixo, a maioria dos delitos também  está relacionada à violência psicológica: 

 



 

 

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Gráficos que especificam o tipo dos crimes, os aplicativos mais citados e as vítimas por gênero. Fonte: Gênero e Número. 

PERSEGUIÇÃO VIRTUAL

Abordagens impertinentes, conversas desrespeitosas ou até mesmo ameaças. Alguns usuários das mídias sociais fazem uso das redes para prejudicar outras pessoas. A estudante de jornalismo Mikhaela Araújo, 21 anos, viveu na pele o quanto esse tipo de aplicativo pode ser um canal para usuários com atitudes perversas. Não foi preciso nem mesmo dar um match, a universitária foi vítima de perseguição, assédio e violência psicológica por um rapaz que se escondeu por trás de mais de um perfil fake. No vídeo abaixo, a jovem explica o ocorrido: 

"CRIARAM QUATRO CONTAS FALSAS COM AS MINHAS FOTOS"

Joyce Kauana mal pôde acreditar que pela quarta vez um perfil no Instagram estava roubando a sua imagem. Em setembro de 2019, um amigo da jovem enviou prints (capturas de tela) de uma conta suspeita. Fotos de meses atrás que a estudante havia publicado na sua rede pessoal estampavam o perfil de uma garota chamada Larissa Apino. A conta já estava há um bom tempo disponível no Instagram e contava com aproximadamente dois mil seguidores, muitas interações, curtidas e comentários, principalmente, de rapazes que Joyce nunca havia conhecido.

 

O problema de Joyce com contas falsas utilizando a sua imagem não era novo. Na primeira vez em que essa situação ocorreu, no início de 2019, os amigos dela também enviaram prints do perfil fake. “Era uma conta em que 'eles' não postavam tanta coisa, era uma, duas fotos e não conversavam com ninguém, até onde eu sei”. Após ser informada, a garota denunciou o perfil a moderação do Instagram e dentro de dois dias a cópia saiu do ar.

O intervalo de tempo entre a descoberta da primeira conta falsa e da segunda foi curto. Poucos dias após a exclusão do perfil fake, outro surgiu para causar preocupação em Joyce. No mesmo modelo que o primeiro, os dados e a atividade do perfil fraudulento eram poucos, mas mesmo assim Joyce pediu mais uma vez para que seus seguidores denunciassem. Era importante que as pessoas que a seguiam prestasse a denúncia, visto que por sempre ser bloqueada por quem criou o profile ela não tinha acesso a caixa de mensagens da conta falsa. “Eles [os(as) donos(as) do perfil] sempre me bloqueavam, não tinha como eu falar [com eles] de jeito nenhum”, declara a jovem.

Cinco meses após a segunda surgiu a terceira. A história se repetiu. Contudo, a quarta vez foi diferente. O perfil de Larissa continha muitos dados. Na noite do dia 03 de agosto de 2019, um sábado, a verdadeira Joyce estava em sua própria casa, na cidade de Carpina. Entretanto, no Instagram da garota que usava as suas fotos a presença da jovem era no estádio Arena das Dunas, em Natal - RN, na festa Buteco do Gusttavo Lima. 

Joyce sabia quando cada uma daquelas imagens e vídeos haviam sido feitas. E achou absurdo aquilo estar acontecendo. Ela contatou a pessoa por trás do perfil fazendo uso do seu Instagram dix, conta alternativa somente para íntimos, e também foi bloqueada nesse perfil. Entretanto, não esmoreceu. Entrou na conta de seu pai e pediu encarecidamente para que o perfil fake fosse deletado. Avisou que se isso não acontecesse ela tomaria medidas legais. No vídeo abaixo ela narra suas tentativas de provar a sua real identidade:

 

 

 

 

 

 

Joyce declara que tem medo do que a pessoa pode fazer com sua imagem. "Eu fiquei realmente com medo (...) Eu ficava morrendo de medo disso. E principalmente se ela estava usando aquele Instagram para coisas ruins. Tipo 'ah, não, tô vendendo alguma coisa' e aí botava na conta dela dinheiro. E a galera que me visse na rua 'olha praí, me roubou', mas na verdade não era eu, era outro perfil com minha imagem." 

medidas preventivas

No ciberespaço, é preciso ter cuidados assim como no mundo real.

A atenção deve ser redobrada para não cair em golpes virtuais.

 

Uma pesquisa da PSafe, empresa brasileira de desenvolvimento de aplicativos de segurança, divulgada em maio de 2019, concluiu que 1 em cada 5 brasileiros já foi vítima de roubo de identidade na internetQuando se trata de perfis comerciais, é essencial que o consumidor fique atento a promoções que não estejam publicadas nas contas oficiais da companhia. Maria Betânia explica que uma das medidas de segurança para golpes cibernéticos envolvendo compras virtuais é a certificação de que o site que está mandando a informação é seguro. Geralmente, as lojas tem esse processo de mandar propagandas, que também é um dos sistemas que eles usam, alguns são de empresas que realmente querem vender seus produtos, mas, outros são fakes. Uma das medidas de segurança que se deve ter é nunca clicar em links, porque você nunca sabe para onde eles vão te levar.

 

Ela também explica que geralmente esses links redirecionam o usuário para falsos sites criados por pessoas mal intencionadas que querem ter acesso a dados da vítima. “(Ao redirecionar) Eles já estão sabendo a identidade da sua máquina, e muitas outras coisas. Nunca dê seus dados pessoais. Como citei, em relação a bancos, por exemplo, instituições federais, elas não mandam solicitação de seus dados via e-mail". A especialista afirma que é fundamental a disseminação de informações sobre os tipos de  fraudes no ciberespaço para que a partir dessas instruções as pessoas passem a ter mais cuidado. 

MENOS É MAIS

 

Nas mídias sociais a máxima “menos é mais” deve ser levada ao pé da letra. É o que ambos os especialistas recomendam. O controle das informações no perfil deve ser realizado com atenção, pois nunca se sabe quem se esconde atrás de perfis desconhecidos. Pedro aconselha “Você deve ter maior ciência de para quem está expondo suas informações pessoais.” Ele aborda o uso espetacularizado das redes sociais como Facebook e Instagram. “Eu já vi casos de pessoas que expõe todo o dia o que fazem como se fossem grandes celebridades. Só que quando você expõe sua vida pessoal dessa forma, você está permitindo que pessoas que você não conhece tenham a ciência do seu percurso diário, de onde você trabalha, onde os seus filhos estudam, que tipo de programação você faz nos finais de semana. Isso tudo é um prato cheio para que pessoas de má fé se aproveitem.”

“Isso é um ponto, você pensar sobre o que é que você quer expor e até que ponto você quer expor.”  Pedro Corrêa, especialista em Segurança da Informação.      

  

De acordo com recomendações publicadas no jornal The Telegraph, outra medida que pode ser tomada além da restrição de suas informações apenas para amigos é conferir quais informações estão públicas na sua conta do Facebook: “um teste útil é sair de todas as suas contas e visualizá-las usando o endereço de domínio para verificar o que realmente está sendo exibido publicamente.” Para saber se as suas fotos estão sendo utilizadas de modo indevido, você pode realizar uma busca no Google Imagens. Betânia adiciona “Hoje em dia, há uma necessidade das pessoas se exporem na internet no sentido de mostrar que está com um status “x”, uma determinada situação. Então isso é uma coisa muito preocupante porque cada vez ficam mais vulneráveis.“ e conclui ao afirmar que que medidas como privar seus perfis pessoais é uma questão de zelo do usuário para consigo mesmo. 

RESPONSABILIZAÇÃO DAS EMPRESAS DE REDES SOCIAIS

 

É válido o questionamento sobre quais medidas de segurança para repreender perfis fakes as empresas de mídias sociais tomam nesses casos. Como explica o diretor do IP.rec André Ramiro a regra geral do Marco Civil da Internet (MCI) é de que as plataformas não podem ser  responsabilizadas por danos causados por terceiros (seus usuários), a não ser que uma ordem judicial que obriga a retirada do conteúdo ou do perfil seja desrespeitada. Ele explica o que porque essa é uma importante medida “É correto que seja assim, do contrário a responsabilização civil, ou o dever de indenizar, surgiria diante do não atendimento a uma mera denúncia privada do usuário. Além disso, caso assim fosse, a plataforma, como um Twitter ou um Facebook, funcionaria como um tribunal privado que julgaria o que deve e o que não deve permanecer na rede”. 

 

SINAIS DE ALERTA

PARA CONTAS FALSAS 

Desconfie de contas que começam a seguir suas redes sem um motivo aparente ou que enviam mensagens não solicitadas.

O cuidado deve ser redobrado caso o perfil não tenha nenhum amigo em comum. Contas falsas normalmente não possuem muitas fotos ou marcações de conhecidos. Preste atenção no número e frequência de publicação da conta, se há realmente um uso ou não.

SAIBA COMO DENUNCIAR

crimes virtuais

Caso você tenha sido vítima de crime cibernético, seja golpe, fraude, roubo de identidade ou qualquer outro tipo de delito é necessário fazer um  Boletim de Ocorrência (BO). 

Se você estiver em Pernambuco, a Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Cibernéticos está localizada em Recife, na Rua da Aurora, 487, Boa Vista.

Os telefones para contato são  (081) 3184-3206

ou 3184-3207. 

Também é possível enviar a sua denúncia para o e-mail

dpcrici@policiacivil.pe.gov.br

Se o seu estado for outro, confira a página da associação civil de direito privado SaferNet onde estão listadas todas as Delegacias  de Cibercrime do Brasil. 
 
A  SaferNet também disponibiliza um portal para denúncia anônima para tipos de violações online que ferem os direitos humanos como violência ou discriminação contra mulheres, tráfico de pessoas, homofobia, entre outros. 

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